Vidas, palavras, ideias e coisas - de dias e de noites - em ambiente (geralmente) citadino
sábado, março 10
O Bronx em Lisboa
Auto-exilado do Bairro Alto há mais de um ano, por questões fundamentalmente estéticas (não consigo dar-me bem entre hordas indecisas de marginais, fashion-victims e pseudos de espécies diversas), anui a voltar lá esta noite, pelo prazer de poder rever uma amiga "de visita à cidade", num dos sítios que foi "nosso", nos tempos da faculdade: o Bartis.
Lá chegados pela meia-noite, a boa conversa e o ambiente tão familiar embalaram-nos até às 4 da manhã, sem darmos por ela. À saída, aquilo que vimos era dantesco: o pavimento coberto de cacos, copos de plástico amassados e poças de vómito. Um grupo de mitras passou a fazer arruaça. Ao virar da esquina, meia dúzia de ascos batatavam-se a soco e estavam já na fase de partir garrafas contra a parede e usá-las como armas. Cresciam gritos e urros.
Apressadamente, corremos em zigue-zague as ruas que nos separavam da Rua do Alecrim, onde mais dois cromos se agrediam a soco. Rua abaixo, o passeio estava banhado em filas de sangue fresco.
E a pergunta ficava-nos na boca: «meu deus, mas como é que não está aqui polícia? Onde é que eles estão?»
Eles estavam, afinal, mais abaixo. Na Praça do Duque da Terceira, ao Cais do Sodré. A dar caça ao álcool e à gulosa multa, enquanto no Bairro havia sangue e gente que se esfolava viva. Quatro carros e oito agentes, alegremente em "operação stop" enquanto, metros acima, havia um autêntico Bronx em Lisboa.
Depois queixam-se de cada vez serem menos respeitados pelos cidadãos. No que me diz respeito, aqui fica o meu enorme respeitinho por aquilo que vi, nesta noite, do trabalho da PSP: dêem-nos segurança, pá! Não nos dêem multas! Filhos da p***!!!
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