Deve ser culpa da falta de tudo (dinheiro, dignidade, felicidade, sexo, justiça, sono, amigos, saúde e etecétera) , mas a verdade é que essa imensa massa de classes a que se convencionou chamar "povo" anda em vias de explodir. Assim a modos que tipo tubo de ensaio, cheio de líquido, tapado com uma rolha, por sobre bico de Bunsen aceso. Obviamente, têm todas as razões para ferver e borbulhar - e terão muitas, muitas mais, ao longo dos próximos dois anos de governo PS.
Mas seja qual for a borbulhagem - e as razões profundas da mesma - custa-me cada vez mais ter de levar com os meus semelhantes (sim, eu também sou povo e também ando borbulhante com o estado do país) a gritar histericamente na comunicação social, como leitões em matança de facas rombas ou galinhas forçadas a pôr ovos de avestruz.
Os palcos de tamanha e tão injustificada gritaria estão um pouco por todas as rádios e televisões e têm nomes do tipo fórum-qualquer-coisa, a denunciar a sempre perigosa "antena aberta". Quando não dá em coisas
atentatórias e chocarreiras, em tempos de antena políticos encapotados ou em
episódios de humor, a democrática abertura das "antenas" desemboca, as mais das vezes, em verborreias inconsequentes e exaltadas, fugindo ao tema e fazendo tábua rasa do mais elementar raciocício.
Como se isto de fazer ouvir a voz de cada um fosse gritar incoerentemente a indignação, em directo, com o megafone do vazio de ideias. Bem sei que são desabafos... mas para isso existem a família, os amigos, as mesas de café e as conversas com os colegas de trabalho (desde que não se seja funcionário público e não se tenha colegas bufos e delatores, claro).
A actual
vox populi está, pois, esganiçada e pífia. Pelo menos, a julgar pelo que se ouve e vê nos media. Além de genericamente preguiçosa e cobarde, porque não se vê na rua, onde realmente impressiona, quando se ajunta aos milhares, gritando a indignação mais que legítima pelo estado a que chegou esta choldra.
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