Vidas, palavras, ideias e coisas - de dias e de noites - em ambiente (geralmente) citadino

sexta-feira, outubro 19

Tem Dias



Acordei hoje (ele há dias...) com a sensação de viver numa choldra. Um país inculto; genericamente boçal; crivado de broncos e incompetentes; anestesiado pela espuma do efémero; viciado nos factóides e cego aos factos; viveiro de pobres e de famílias cada vez mais endividadas; cheio de assimetrias cada vez maiores e governado por gerações sucessivas de saprófitas, cuja sobrevivência depende de dizer que tudo está bem, a todo o transe e contra todas as evidências. E apercebi-me que o mal não é (só) dos políticos - os dos governos como os das oposições.

Cada povo tem a classe dirigente que merece. E o Portugal de hoje, que não se levanta do agachamento interno e externo em que o colocaram e colocam, por vezes entre galhofa e desprezo, não tem remédio. Sinto-o nas entranhas, ao fim de 20 anos de mercado de trabalho, prazeres, alegrias, tristezas, resistências, lutas diversas e análises profundas. Não, este país não tem remédio. Pelo menos, não na minha geração.

Nela (e nas mais jovens), há quem opte por emigrar. Há quem opte pela anarquia. Há quem opte pelo seguidismo. Há quem opte por "desligar". Eu, confesso, começo a não saber por onde optar. Até porque o «só sei que não vou por aí», conforme invocado por José Régio no "Cântico Negro", apenas oferece energia, não dá pistas concretas.

Parece já não ser possível vencê-los. Mas antes morrer que juntar-se a eles. Nesta dicotomia entre a vontade de resistir e com isso ajudar a (re)formar os outros; ou baixar os braços e tratar exclusivamente do que é nosso e do que nos interessa, com marcado egoísmo tendente à sobrevivência, por onde ir? Ainda bem que é sexta-feira e vem aí o fim-de-semana, para pensar nisto. Ou não.
a
a

Sem comentários:



"Remember, remember, the fifth of November..."