Com a aprochegação do fim do ano e os balanços que habitualmente se promovem, apenas constato, neste momento, o que deveria ser óbvio - mas não é. O desemprego sobe. A educação desce. O Norte está a saque das máfias. Lisboa a saque dos políticos e dos interesses corporativos. O Alentejo perdeu a eira e a beira. O ALLgarve, bom, é o que se sabe e o que se vê. Na Madeira, reina incólume a versão suavizada de Jabba the Hutt.
Na nova campanha para promover a imagem do rectângulo, os pontas-de-lança são a Mariza do costume, um miúdo que dá pontapés na bola e faz festas com putas e um treinador de futebol que se auto-intitula "o special one".
Professoras cancerosas têm de ir queixar-se à televisão para lhes ser reconhecida a doença incapacitante. O armazém onde estavam armazenados alimentos para uma festa de Natal com cidadãos sem-abrigo da capital foi assaltado.
As câmaras municipais estão a endividar-se à banca para pagar as dívidas aos fornecedores. As greves duram apenas um dia, encostado aos fins-de-semana, não se sabe bem para quê a não ser estorvar quem trabalha, com os governantes a rir-se delas. Alguns polícias que disparam em legítima defesa ou no exercício das suas funções são crucificados. Outros polícias estão na caça à multa um quarteirão abaixo de verdadeiras batalhas campais entre criminosos e desordeiros.
Há alunos a mutilar impunes os carros dos professores. Há professores agredidos pelos pais desses alunos. Há alunos a ter aulas em salas de gelo. Há velhinhos a morrer em casa na solidão do frio e a dar sinal de vida, à vizinhança desatenta, apenas quando o cheiro a podre fica "estranho".
Há a total impunidade dos poderosos e a total impotência dos outros. Há criancinhas a exigir bens materais aos pais que estão impedidos de sovar a ganância porque parece mal. Há faculdades a ejacular licenciados que já nem a restauração ou a limpeza de escadas conseguem absorver. Há corruptos e corruptas a rir-se da Justiça, enquanto continuam a fazer favores e a depauperar o erário público ou a fugir aos impostos.
E há todo um povo, depois, a quem nada importa desde que haja novelas, futebol, gajas boas, tricas dos famosos e uma mini com tremoço. A geralíssima e esmagadora maioria dos rabos portugueses está tão servil e agachada, com nádegas tão indiferentes e calejadas, que já não vai ser acordada só com uma palmada de aviso.
Daqui para a frente, menos que um clister diário será esforço e recursos deitados à rua. Porque as entranhas do Portugal de hoje não são capazes, por si só, de expelir toda a merda acumulada.
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