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terça-feira, novembro 20

LOL




Mão amiga, em escala desmesurada e com preocupação comovente que muito agradeço, fez-me chegar um exemplar de "O Segredo", mantra sagrado da mais recente literatura de auto-ajuda. Com o especial pedido de ler a obra sem pré-conceitos nem preconceitos.

Desatei a fazê-lo de imediato, aproveitando a hora de almoço. Papel excelente, aspecto impecável, aura mística a condizer, grafismo soberbo e sedutor, tamanho conveniente para transportar na mala ou até num bolso, produto apelativo para ter nas mãos e folhear.

Depois... bem... Depois da forma, vê-se o conteúdo. E o que se vê é assustador. Uma colecção de citações dispersas de uma série de nobodies um dia tornados somebodies por programas americanos de tipo Oprah ou Dr. Phil, que a autora tenta nalguns casos sistematizar e sustentar, noutros "largando-os" apenas na página, certamente esperando que a sua assustadoramente genérica banalidade se transforme em carapuça de malha, esticável à medida das cabeças mais variadas.

Multiplicam-se as referências às energias do Universo que temos de ser capazes de canalizar para nós, com 'técnicas' tão sólidas quanto «atraia as coisas boas em vez das más» (prático, hein?). A autora refere que ela própria se tornou um íman, atraindo mais "professores do Segredo" quanto mais conhecia. Como se algo houvesse de extraordinário no falar com pessoas que depois nos indicam outras com quem falar do mesmo assunto...

E todas elas, note-se, referências mundiais no bem-estar humano, desde os "oradores" aos quiropráticos, passando pelos "metafísicos", personal coaches, curandeiros, "visionários" e até, pasme-se, uma consultora de feng shui....!!!!!!!

"O Segredo" é, contas feitas, a mais escandalosa resanha de inutilidades que alguma vez li, a coberto da "luz" que "iluminou" a autora, depois de ler um suposto livro raro com mais de 100 anos que nem sequer é identificado, atrevendo-se a senhora a invocar nomes como Shakespeare, Beethoven, Platão ou Einstein enquanto "outros conhecedores do segredo" antes dela (com que provas, pergunto eu?...).

E a referir-se ao seu livro e ao seu filme como geradores de milagres até mesmo em crianças, doentes e velhinhos, enquanto milhares de pessoas normais descobriram alegadamente, através deste papel de sanita, "a magnificência que as esperava".

Quanto muito, o segredo que esta coisa em forma de livro revela é simples: haverá sempre quem se sirva da esperteza para extorquir dinheiro a desgraçados e desgraçadas desesperadamente à procura "do milagre que está dentro de nós todos". Bullshit! BULLSHIT!!!

Desta experiência atroz de leitura, vale o que me fica de bom: ter a atenção de amigos que me viram suficientemente em baixo para acharem (mal, mas pelo menos tiveram o tempo, o interesse e a preocupação) que valia a pena tentar de tudo para me ajudar, porque as evidências assim o davam a entender.

Isso sim, é o segredo para viver bem. Ter quem nos ame e nos apoie; e dar-mo-nos a esse amor, renovando as energias que nos fazem acreditar na paixão de viver.



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"Remember, remember, the fifth of November..."