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quinta-feira, dezembro 20

"Se fosse eu a mandar..."



A sanha higienizadora e pidesca dos fundamentalistas anti-tabaco continua a mostrar-se um pouco por todo o lado. Voltei a tropeçar nela no Arrastão, de Daniel Oliveira, a propósito deste post, no qual o autor apela aos seus leitores para lhe enviarem nomes e moradas de restaurantes, bares e discotecas onde se possa continuar a fumar, depois de 1 de Janeiro de 2008.

Para cima da ideia (um futuro roteiro de smoking areas, útil a quem fuma e não quer deixar de o fazer), na caixa de comentários, saltaram de imediato as aves de arribação do costume, com aquela mística salazarenta de quem rosna contra os "perigos" da divulgação desses sítios onde o fumo do cigarro continuará a ser possível, mesmo que em condições muito restritas e concretas.
"Eles", que garantem a pés juntos nunca vir a pôr os pés nesses antros de vício, nessas "ilhas" de liberdade condicionada para quem fume, vão mais longe e insurgem-se contra a sua existência, prevista da Lei que os próprios aplaudem (embora apenas na parte que lhes interessa, claro...).
É fácil encontrar estes seres nestas causas, muito terra-a-terra, como o cão do caçador, que "não come nem deixa comer". "Eles" jamais irão a esses restaurantes, bares e discotecas e nem aceitam que esses sítios estejam lá, para quem legitimamente os procure.

É fácil, a certos portuguesinhos, atacar a liberdade dos vizinhos do lado, os "normais", os "não-poderosos". Percebe-se: custa muito defender causas sociais fracturantes. Dá muito trabalho apoiar causas beneméritas relevantes. E é muito arriscado agitar bandeiras contra (nomeadamente...) grandes corporações empresariais e/ou políticas governamentais que atacam direitos, liberdades e garantias fundamentais.

Em todos nós, de resto, há um ditadorzeco de trazer por casa, poucochinho e onanista, básico e primata, pronto a alardear barbaridades do género "o mundo só será um bom sítio para se viver quando todos pensarem e agirem como eu quero". Infelicidades do genoma humano, nascermos todos com esta coisa tão baixa cá dentro; e desgraçadamente tão cheia de potencial de crescimento...

Os cidadãos aprendem a amordaçar esse fantasma ditatorial de onde despontam os Hitlers de pacotilha, mais cedo ou mais tarde, quando e se os deixamos. Os "mandadores", esses, deixam sair o seu fantasminha do bolso, com rédea solta, sempre que a frustração do dia-a-dia lhes racha o verniz, com o rasteiro "se fosse eu a mandar..." prontinho a saltar da boca.
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"Remember, remember, the fifth of November..."